No dia internacional da mulher achei por certo pensar sobre a questão, afinal ainda sofremos, ainda lutamos e ainda precisamos refletir sobre nossa condição e nossa posição na sociedade. As mudanças chegam a nos atropelar de tão velozes e se por um lado alcançamos conquistas e liberdades, por outro novas amarras nos são colocadas.
Entre todos os eventos sobre o assunto que aconteceriam na cidade, o que me chamou mais a atenção foi o realizado no Museu da República, onde arte, direito e comportamento estariam em pauta.
Este evento, que aconteceu nos jardins do museu e conta com uma exposição aberta ao público, faz parte de um projeto comemorativo dos 20 anos da Constituição de 1988 e celebra a participação popular neste capítulo tão importante da nossa história.
- Esse evento é muito importante para revermos 1988, rediscutirmos e reavaliarmos o que conquistamos e o que ainda precisamos conquistar. Optamos por fazer todos os debates ao ar livre para termos mais ouvintes, mais participantes, pois nosso objetivo é trocar com as pessoas, gerando envolvimento e participação sobre diversos assuntos – explica Maria Helena Versiani, curadora do evento.
Mas no domingo, dia oito, o foco da discussão estava apontado para a mulher e não somente a mulher como gênero, mas principalmente a mulher como conquista.
A partir de um movimento de mulheres, conhecido como Lobby do Batom, foi conquistado, em 1988, na Constituição, o direito de igualdade e direitos entre homens e mulheres. Mas o que essa nova legislação significou em termos práticos? Quais mudanças ela efetivamente imprimiu nas mulheres e nas suas relações com os homens e com a sociedade?
Através de debate, exposição de graffiti, performance artística e filme sobre a questão legal do aborto, as inquietações e conquistas da mulher atual foram se destrinchando.
A primeira etapa do evento foi a apresentação ao vivo da graffiteira Panmela Castro, mais conhecida como Anarkia, que pintou um quadro com a figura de uma mulher e dizeres em defesa da causa. Anarkia é integrante do projeto "Graffiteiras Pela Lei Maria da Penha", que promove na Baixada Fluminense, debates sobre a lei que pune agressões contra as mulheres.
- O graffiti é importante por que é visto por todo mundo e se for usado como um meio para comunicar assuntos polêmicos, é muito eficiente – argumenta Anarkia.
Outra atração do evento foi a performance "Procurando Eva na Cidade" da atriz e bailarina Andréa Maciel, que percorreu as ruas do Catete com uma saia de papelão colorida e no final do evento se apresentou no palco, dialogando com o público e trazendo à tona aspectos da sensualidade feminina.
- A arte vem para expandir o conceito. É uma forma de abordar o tema de uma outra forma, sensibilizando o público – argumenta a curadora Maria Helena.
O debate com Schuma Schumaher ativista feminista que fez parte do Lobby do Batom ; Eliane Potiguara, fundadora e diretora da REDE GRUMIN de Mulheres indígenas e Miriam Goldenberg antropóloga, escritora e pesquisadora na área de gênero, desvio, corpo, sexualidade e novas conjugalidades, abordou dezenas de aspectos relevantes sobre a mulher nos dias de hoje: suas lutas, seus anseios e suas vitórias.
Schuma fez um histórico sobre as conquistas da mulher, desde a criação do dia Internacional da Mulher em 1910, em Copenhagen, no II Encontro de Mulheres Socialistas, até a conquista das feministas na constituição de 1988 passando pela conquista, em 1932, do direito de votar e pela segunda onda do feminismo na década de 70, que lutou bravamente pelo fim do patriarcalismo e pelo direito ao prazer.
- O feminismo conseguiu fazer uma luta silenciosa que não derramou uma só gota de sangue – avalia Schuma.
Eliane Potiguara revelou em números as dificuldades das mulheres indígenas, que são duplamente uma minoria e revelou como o preconceito e o desrespeito vem destruindo a essência do povo indígena durante séculos.
- Ser indígena hoje já não é ficar nu e andar na floresta. Ser indígena é ter na essência a ética que vem dos nossos ancestrais e isso nós não podemos perder – explica Eliane.
Miriam Goldenberg fez uma palestra bastante envolvente e abordou a questão do comportamento da mulher brasileira. Falou sobre a importância de Leila Diniz e sua revolução comportamental - uma revolução que foi a sua própria vida.
Miriam revelou também o quanto as mulheres brasileiras se importam e se preocupam com a questão do envelhecimento e como elas medem a sua felicidade pela conquista de um casamento estável quando chegam aos cinqüenta anos.
Ela comparou o comportamento das brasileiras com o das alemãs que se consideram no auge aos cinqüenta por conta da maturidade alcançada e pelas conquistas na carreira. As brasileiras, segundo suas pesquisas, se sentem infelizes pois já não chamam a atenção dos homens na rua e porque, se não tem um marido, dificilmente encontram um novo companheiro.
Miriam colocou, ao final, que as alemãs seriam mais felizes, pois não dependiam dos homens para se sentirem realizadas.
Não sei...
Será pedir demais querer os dois? Ter uma relação satisfatória com o universo masculino e, ao mesmo tempo, com a vida profissional?
Acho que daqui pra frente só as mulheres que conquistarem isso poderão dizer que se sentem realmente felizes. Afinal as alemãs nos influenciam e nossos costumes não são abandonados tão facilmente.
Novas batalhas para nós! Mas ser mulher é isso: mudar, lutar, amar...
segunda-feira, 16 de março de 2009
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muito legal esse projeto aqui manuzinha... projeto não né, realização. gostei de ler. bjucassss Lu
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