quinta-feira, 3 de julho de 2014

A Orch Filmes (o braço audiovisual do Arte de flanar) recomenda o filme A farra do Circo de Roberto Berliner e Pedro Bronz, em cartaz nos cinemas.

O filme é um mergulho nas imagens, nos sons e na ideologia de um momento fervilhante da cultura carioca dos anos 80.

Muito do que a gente viu no discurso de junho do ano passado já estava vivo e pulsante ali; a anarquia artística, a sexualidade lúdica e a mobilização política pela união e ação direta.

O filme é uma colagem de arquivos. Não há nenhum imagem filmada nos dias atuais e o que me pareceu a princípio fraco é uma delícia. Descansa nosso olhar da perfeição estéril do HD e mostra que o "erro" da filmagem pode ser seu maior trunfo.

Alguns depoimentos são memoráveis, como o do Perfeito Fortuna ao deixar o México após a Coca-Cola sair do projeto que os levou até lá durante a Copa de 86. Assim como a sinceridade de uma criança apontando que não tinha gostado da falta de organização da "comitiva". Uma sutil autocrítica dentro de um documentário realmente sincero e empolgante.

E sem dúvida o final é seu ponto máximo. Mas tem que ir lá ver...

terça-feira, 17 de junho de 2014

The World Cup of Lazy Journalism

While finishing up a news story for my current employer, a foreign news agency emailed me asking if any vehicles were on fire because of that days’ bus strike. They’d seen footage from the last time the citizens of Rio made their feelings known and were looking for something in a similar shade of Angry Violent Brazilian. They didn’t mention the middle class workers who couldn’t afford their basic needs and focused on large things burning because, of course, “that’s what makes good TV.”
Though I couldn’t see anything on fire from my Copacabana hotel room, I checked some local sources to see if there was anything with wheels being burned anywhere and found that on this night, the protesters of Rio were keeping their anger to themselves.
When I relayed to the foreign (let’s call it American) news agency that nothing relevant was on fire, but that I could probably get them an intimate portrait of one of the bus drivers on strike, the emails stopped. No carnage, no story.
As someone who only gets paid when someone buys the stories I’m selling, I thought about writing them back and pitching something using buzzwords like “favela violence” or “police shot/killed…” or simply “FAVELA!!!”, but I thought it best to finish the work I was currently being paid for.
Talking to journalists throughout Brazil these last few weeks of covering the buildup to the World Cup, the one thing they all say is that the only stories editors across the world are interested in fall into the Angry Violent Brazilian Who Might Mess Up The World Cup category, or what can only be described as “poverty porn.” Camera people who are based here say the same thing–everyone wants shots of people being poor in the favelas and/or angry young people in masks and headscarfs. They are filming the exact same story over and over, just in different languages.
Every journalist talked with regret and helplessness. There are stories here with more depth that deserve to be told, but that’s not what’s selling.
I’m not immune to this formula. I’ve interviewed several protesters, strikers and people simply upset with the Brazilian government. As I’m here to cover World Cup-related stories, I pushed them to mold their experience to the World Cup, even if all they really wanted to talk about was wondering how they were going to feed their kid the next day.
One journalist said the reason it’s like this is because television news feels it’s competing with reality television. If a majority of the country had to choose between a thoughtful profile of a family from another country trying to make ends meet and a faux-famous family on a luxury vacation, apparently they’ll always choose the latter.
But that’s not my taste and it doesn’t seem to be the taste of the journalists I spoke to. But are we the audience? Apparently not. News agencies and TV networks seem to only care about whether males aged 25 to 49 are going to look up from their iPhone for a few minutes and they believe the only way that’s going to happen is if something’s on fire or more importantly, something “could” potentially be on fire.
Has the media trained the viewing public or is this what the viewing public really wants? If all the news outlets decided to stop focusing on scaring us and turned their attention to a well-rounded, moderate telling of the facts, would the soccer moms in Iowa revolt?
The truth is that while of course there are some terrible things happening in some of the hundreds of favelas in Rio and there have been necessary protests and there are threats of more, there are many, many more stories that can and should be told. For example, the Asa Branca favela is the happiest place I’ve been to in Rio yet it’s three decades of remarkable architectural progress is being threatened by wealthy developers. The recently evicted residents of the former Telerj complex I spoke to turned down the offer of Bolsa Família, Brazil’s cash transfer welfare program, because they didn’t want a handout, they just want a roof over their heads. And in Maré, the site of the latest police occupation, there is inspiring community organizing and engaging public security debates happening.
Would people around the world care about these stories? Isn’t part of our job to educate? When you look at the accompanying photo what do you see? Do the words “slum” or “poverty” come to mind? Or do you see history and culture and what can only be viewed as a remarkable architectural achievement?
Fear and sensationalism are easy to produce. Stories with depth take time. Take time to make. Take time to watch. News agencies want 15 seconds of a bus on fire, 10 seconds of someone yelling angrily into a camera, and a five second quote to put fear into World Cup tourists.
All of us–journalists, editors, and those with the remotes in our hands–owe it to the people on the ground and to ourselves to do much better.

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quarta-feira, 4 de junho de 2014

Relembrando o Retrato


Ontem fui ver Moscou e ouvir João Moreira Salles falar de Eduardo Coutinho na PUC. Na mesma sala 102K em que, há 10 anos exatos,  fiz uma matéria eletiva de documentário com João. 

Nesta época, vi um filme que me abalou muito, "Retrato de Classe". Um filme que fala sobre projeção e realidade, sobre sair da escola e ir viver a vida. Sobre a classe média, tão pouco retratada no cinema documentário brasileiro.

Me vi na tela. Eu estava num momento exatamente anterior ao retratado no filme, cheia de expectativas e muitos medos. Prestes a sair da escola. (No meio daquele ano eu me formaria em jornalismo, sem saber muito o rumo que iria tomar).

Eu estava à flor da pele e tinha que pensar no filme, escrever sobre o filme, teorizar sobre o cinema brasileiro documental. E eu simplesmente só conseguia sentir a minha experiência diante da tela.

Foi ai que pela primeira vez, depois de quatro anos escrevendo textos racionais, com citações e elaborações, resolvi chutar o balde e escrever uma poesia e entregar como produto final. Para João Moreira Salles avaliar.

Achei aquilo muito legal e acho até hoje, até por que sempre tive medo de poesia.
Principalmente das minhas, claro. Que não são muito de se esconder, o que é certamente um defeito. Foi para mim uma ousadia.

Mas foi assim... Escrevi e realmente me despi ali. Lendo hoje vejo toda a minha confusão da época, minha angustia revelada de sair daquele local quentinho, acolhedor, seguro e criativo que era a faculdade, para então cair no mundo. Entrar na jaula do leão, sem entender nem uma fração do que era a realidade. Que medo.

João tirou dois décimos da nota máxima do meu poema e justificou, além de outras coisas,  dizendo que eu estava colocando muita responsabilidade nos outros para o fim dos personagens do filme. Toda razão. 

Mas hoje eu ainda penso que há motivos também para quem vê responsabilidade no mundo, nas coisas, na família, na sociedade, para os fracassos. A revolta é justa, ainda acho. Pois a correnteza parece ser mesmo contra. Se não, porque seria tão difícil e raro as pessoas se realizarem hoje em dia, principalmente no Brasil, e fazerem aquilo que desejaram um dia quando crianças ou jovens? Mesmo aqueles que não estão na base da pirâmide?

Indo até mais fundo e usando a referencia de um outro filme, a cena dos adolescente de Santa Marta: duas semanas no Morro, revela que para outras classes nesse país, nem sonhar é mais permitido, se revela quase perda de tempo. Marcinho VP estava ali para testemunhar. 

Estar em um mundo em que a realização da vocação e da felicidade é artigo raro é mesmo triste, mesmo que querer o o oposto seja idealismo pueril. Acho que foi por isso que me emocionei ao ver o Retrato de Classe, da minha classe, e por sentir que se bobeasse eu iria pelo mesmo caminho.